A cada seis minutos, uma brasileira morre vítima de doença cardiovascular. Essas enfermidades, como AVC ou enfarte, matam mais mulheres de todos os tipos de câncer somados. Alguns fatores de risco específicos — a exemplo da gravidez e o uso de anticoncepcional — influenciam. Somados a isso, estão a menor representatividade em estudos clínicos e o menor acesso a exames, que elevam o risco de subdiagnóstico.
Por causa disso, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lança nesta quinta-feira, 13, um documento de alerta sobre o problema. Nesse manifesto, a entidade propõe reduzir a mortalidade feminina decorrente de doenças cardiológicas em 30% até 2030.
“Na mortalidade proporcional das mulheres (que considera todas as causas de morte), as doenças cardiovasculares têm proporção maior do que nos homens”, diz Glaucia Moraes de Oliveira, diretora da SBC. Entre as brasileiras, essa taxa é de 29,9%, ante 27,6% entre os homens. Segundo Glaucia, a prevalência das doenças cardiovasculares tem crescido entre jovens e mulheres no pós-menopausa.
Para frear esse avanço, uma das medidas é conscientizar as mulheres sobre uma rotina de exames periódicos, como na prevenção do câncer de mama e de útero. “Mulheres são subdiagnosticadas e subtratadas. Muitas vezes, não valorizam seus sintomas e não procuram médico. É preciso sensibilizá-las não só para ir ao ginecologista, mas para que avalie seu risco cardiovascular.” Como política pública, recomenda-se incluir indicadores de saúde cardiovascular em programas de Assistência Primária à Saúde (APS), no atendimento pré-natal e na transição da menopausa.
Fatores de risco tradicionais para doenças cardiovasculares são os mesmos para homens e mulheres. Alguns exemplos são hipertensão, diabete, obesidade, tabagismo, altos níveis de gordura no sangue e sedentarismo. É nesses fatores que deve se concentrar a prevenção primária. Mas, para um diagnóstico mais preciso, é preciso considerar também fatores de risco específicos para elas.
Fatores de risco específicos para mulheres:
•Hipertensão durante a gravidez, que indica maior probabilidade de hipertensão no futuro e, por consequência, risco de desenvolver doenças cardiovasculares como a arritmia cardíaca;
•Terapia hormonal durante a menopausa;
•Uso de contraceptivo hormonal associado ao tabagismo;
•Doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatoide, mais prevalentes em mulheres;
Ansiedade e depressão;
•Fatores socioeconômicos ligados à má alimentação, menor acesso ao diagnóstico, etc.
Conforme Glaucia, o funcionamento hormonal é o que faz com que aspectos psicossociais sejam mais determinantes para doenças cardiovasculares em mulheres. “Os hormônios femininos agem em diversos receptores em que a testosterona não funciona. O estresse nas mulheres leva a maior taquicardia, mais consumo de oxigênio. As mulheres não têm muitas doenças obstrutivas crônicas, mas têm mais disfunção endotelial”, explica.
A disfunção endotelial ocorre quando o endotélio (membrana que reveste parte do coração e os vasos sanguíneos) sofre alterações por fatores como diabete, hipertensão arterial, colesterol alto, tabagismo e inatividade física — ou mesmo por mais de um deles.
Além disso, as coronárias (artérias que nutrem o músculo cardíaco) femininas são mais finas, o que eleva a tendência de bloqueios arteriais. Já a menopausa faz com que a fabricação de estrogênio — hormônio que ajuda a proteger vasos sanguíneos e a controlar os níveis de colesterol e triglicerídeos — diminua, fazendo com que o coração perca uma proteção natural e fique mais sujeito ao enfarte, além de aumentar o risco de hipertensão.
Doenças cardiovasculares matam mulheres silenciosamente; por que isso acontece?
Por Antonio Nunes 08:34 GERAL
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